terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Um pouco mais sobre ACT

OI TURMINHA,

AÍ VAI UM ARTIGO SOBRE ACT QUE TENHO DESDE 2006, MAS QUE FICOU PERDIDO NO FUNDO DO BAÚ, ACABEI DE ACHÁ-LO. É SUPER BOM, DÁ PARA ENTENDER MAIS UM POUCO SOBRE AS IDÉIAS DO STEVEN HAYES, VALE A PENA LER.
BJOS



Felicidade não é natural
A revista Time publicou uma matéria interessante sobre a terceira onda de mudanças no campo da psicologia. Uma nova tendência que está crescendo dentro da ciência do tratamento comportamental. Atualmente a vertente mais disseminada e responsável pelos tratamentos de depressão, ansiedade, obsessões, traumas, síndrome do pânico, entre outras doenças é a Terapia Cognitiva Comportamental (TCC). A terceira-onda seria a sua substituição pela Terapia da Aceitação e do Comprometimento(TAC) – “Acceptance and Compromise Therapy” – que tem como especialista o psicólogo Steven Hayes, personagem da matéria da Time.
A diferença entre as terapias é deveras interessante de observar. A suposta evolução de pensamento faz sentido, apesar do caráter inicial de seu uso. O tratamento através da TCC consiste em corrigir padrões de pensamentos e comportamentos distorcidos. Realiza mudanças das emoções negativas que atormentam tantas pessoas. O paciente passa a questionar seus pensamentos e atitudes, os desafiando até conseguir superá-los. É considerado curado quando esses pensamentos negativos são modificados.
Já a TAC não pretende alterar os sentimentos que surgem através das emoções negativas. Seu objetivo é que o paciente aprenda a observar todas essas emoções de uma perspectiva maior, colocando-as dentro de um contexto. Usando uma analogia, é aprender a ver as nuvens no contexto do céu. As núvens mudam, o céu não. Tendo essa perspectiva maior, as emoções negativas não são tão opressoras a ponto de controlar totalmente nossas mentes, nos deixando destruídos e prostrados.
Os resultados da TAC são interessantes. Sua eficácia está sendo grande no tratamento de depressão. Uma explicação para seus resultados positivos é que, ao tentarmos corrigir ou mudar nossos pensamentos negativos, como se faz na TCC, acabamos os fortalecendo. Hayes usa a comparação com alguém que precisa fazer dieta e não pode comer pizza. E a pessoa pensa “não posso comer pizza, não posso comer pizza”, ficando apenas mais obcecada por pizza. Segundo Hayes, se ficamos abertos e dispostos a experimentar as emoções negativas, acabaramos entendendo como deve ser nossa vida e o que devemos fazer com ela.
O método utilizado para observar essas emoções é baseado na meditação budista da atenção plena (mindfulness em inglês; shamata em sânscrito; shine em tibetano). O que mostra mais uma vez a influência do pensamento oriental que recentemente foi se inserindo na ciência ocidental. E o que deixa um pouco questionável a verdadeira dimensão científica dessa chamada terceira onda na psicologia. A técnica ajuda aos pacientes a observarem com mais atenção seus sentimentos sem que sejam entorpecidos por eles. Pode parecer banal e simplista, mas realmente internalizar isso faz com que tudo fique mais leve, ao ponto de simplesmente entender que pensamentos negativos ocorrem durante a vida, e nunca deixarão de acontecer.
Logo, Hayes não aconselha seus pacientes a lutar contra as emoções negativas, mas que aprendam a aceitá-las como parte da vida. De novo, pode parecer superficial, como se o sofrimento das pessoas com essas doenças não fosse algo tão grave assim. Mas Hayes não está dizendo que as pessoas não sofrem o bastante. Ele mesmo, antes de ser um psicólogo de renome, foi um paciente. Tinha síndrome do pânico. Não conseguia falar em público, parecia que estava tendo um ataque cardíaco, com conseqüências terríveis.
A TAC acredita que a tentativa de se livrar da dor é a principal combustível para transformá-la em um grande sofrimento. Uma idéia que pode parecer revolucionária no ocidente, mas que dentro da filosofia budista é como aprendar as vogais do alfabeto. Ainda não existem estudos que comprovam a eficácia do tratamento. Mas a matéria da Time é bem completa na explicação das teorias e nos questionamentos em torno dela.
Para mim, a idéia da TAC faz muito sentido. Só não consigo imaginar isso funcionando em um ambiente clínico, em vários tipos de pacientes. O insight que fez surgir em mim a idéia principal da TAC – de não lutar contra emoções ruins – surgiu de forma natural. Natural, mas não fácil. Levou anos de convivência amarga com pensamentos, lembranças, saudades e fantasmas que teimavam em ir embora. Eu, querendo me desfazer deles, apenas dava mais força a eles. Depois de muito tempo, percebi que teria que fazer amizade e não tentar esquecer tudo, dos pensamentos que me perturbavam, que me causavam terror. É como fazer amizade com um inimigo, sem que este tenha dado motivos para isso. Passei então a incorporá-los. Um a um. É uma companhia estranha, só que não mais destrutiva. Perdeu toda força negativa. E de certa forma, me apropriei dessa força. Lembrando agora, vejo como é difícil, mas não há escolhas. Alguns chamam isso de destemor, não sei se concordo. Hoje minha agenda parece ter mudado - apesar de não nem querer entrar em muito contato com o que seja ela. Não quero pensar em como devo lidar com as coisas. Como deve ser minha reação. Mas me contenho, já que estou no limite da minha capacidade de expressão. Se é que algo acima fez sentido pra alguém.
O refrão da música “Black” do disco I See a Darkness do Bonnie Prince Billy é um bom resumo de tudo dito acima.
Black, you are my enemy
And I cannot get close to thee
Our life is ruled by enmity
And I can't weaken that
The only way that I can see
Is to hold you close to me
To love you for it's meant to be
I weaken your attack
Por Renato Parada.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Um exercício de ACT

Oi Pessoal,

Já estamos quase no final do ano....2009 voou.
Este mês decidi fazer algo diferente, vou propor um exercício de ACT para vocês, é um exercício ótimo, principalmente quando estamos num processo de dor psicológica. Neste caso um dos primeiros passos é a gente se distanciar da mente e tornarmo-nos meramente observadores. Faz uma grande diferença a gente dizer: Eu sou depressivo ou a gente dizer: Eu estou tendo pensamentos e sentimentos de que eu sou depressivo.O fundamental deste exercício é a gente começar a se conscientizar de nossos processos mentais (cognitivos).
É um processo lento, mas vocês poderão ter um relacionamento muito mais saudável com a mente de vocês, quando nós paramos de lutar contra a nossa cabeça e começamos a viver,independentemente do ela nos diga, reclame ou cobre, isso sim vale a pena.

Exercícios
December 9, 2008 - 9:52am — airamaia
No livro Get Out of Your Mind and Into Your Life (Saia da sua Mente e Entre na sua Vida), há diversos exercícios que são fundamentais para quem trabalha com a ACT Therapy (Terapia da Aceitação e Comprometimento) e por este motivo decidi traduzir alguns exercícios, já que, infelizmente, ainda não temos nenhum material em Português.

Este exercício foi retirado do Capítulo Having a Thought versus Buying a Thought (Tendo um Pensamento versus Comprando um pensamento) e denominado Labeling Your Thoughts (Rotulando seus pensamentos)

Rotulando seus pensamentos:

Uma das abordagens para que possamos nos tornar conscientes de nossos pensamentos, sentimentos, memórias e sensações corporais enquanto eles passam por nós, é rotulá-los, tornando-nos conscientes de nossos processos mentais.
Diga em voz alta exatamente (claro que você também pode fazer este exercício mentalmente, desde que você esteja consciente do processo) o que você está fazendo e não fique apenas pensando o pensamento.

Por exemplo, se você está pensando que você tem coisas para serem feitas mais tarde, em vez de dizer, “Eu tenho coisas para fazer hoje mais tarde”, acrescente um rótulo para o tipo de evento que acabou de passar pela sua mente: “Eu estou tendo um pensamento que eu tenho coisas para fazer mais tarde.” Se você se sente triste, perceba esta sensação, dizendo a si mesmo, “Eu estou tendo um sentimento de tristeza” e não dizendo “Eu estou triste”. Quando você rotular seus pensamentos, faça da seguinte forma:

Eu estou tendo um pensamento que .....(descreva seu pensamento)
Eu estou tendo um sentimento de ... (descreva seu sentimento)
Eu estou tendo uma memória de ....(descreva sua memória)
Eu estou tendo a sensação de ...(descreva a natureza e a localização da sensação do seu corpo)
Eu estou notando a tendência de ... (descreva seu ímpeto, impulso ou predisposição)

Agora, você está pronto para tentar rotular seus pensamentos. Deixe sua experiência fluir e rotule seus pensamentos apropriadamente.

Hayes, Steven C “Get out of your mind and into your life: the new acceptance and commitment therapy / Steven Hayes & Spencer Smith 2005 pg. 75-76

Airamaia Chapina Alves.
Caso haja alguma observação sobre o texto acima, por favor sinta-se à vontade para entrar em contato: airamaiachapina@yahoo.com.br

terça-feira, 29 de setembro de 2009

O PODER DO AGORA PARA REFLETIR EM OUTUBRO!!!!

Oi pessoal,

Estou eu aqui de novo com o Livro O Poder do Agora....
Queria mandar algo "menorzinho" , mas acho que é essencial esta parte toda para que realmente entendamos o que ele explica sobre a mente. Então, aí vão as páginas 23 e 24. Eu sei que é um pouquinho extenso, mas como envio apenas textos mensalmente, façam um esforço...vale a pena.
Um bom mês de outubro a todos,
Airamaia

Pensar não é essencial para sobrevivermos neste mundo?
A sua mente é um instrumento, uma ferramenta. Existe para ser usada numa tarefa específica e, quando essa tarefa termina, põe-se de parte. Assim sendo, eu diria que cerca de 80 a 90 por cento do pensamento da maioria das pessoas é não só repetitivo e inútil, mas, devido à sua natureza disfuncional e muitas vezes negativa, é também muitas vezes prejudicial. Observe a sua mente e verá que isto é verdade. Provoca uma perda considerável de energia vital.
Esta espécie de pensamento compulsivo é, na realidade, um vício. O que é que caracteriza um vício? Muito simplesmente isto: você deixa de sentir que tem a opção de parar. Parece ser mais forte do que você. E dá-lhe igualmente uma falsa sensação de prazer, prazer esse que invariavelmente se transforma em dor.
Por que motivo seríamos nós viciados em pensar?
Porque você se identifica com o pensamento, o que significa que obtém a sua sensação de identidade a partir do conteúdo e da atividade da sua mente. Porque você acredita que deixaria de existir se deixasse de pensar. Ao crescer, você forma uma imagem mental da pessoa que é com base nos seus condicionamentos pessoais e culturais. Podemos dar o nome de ego a esse eu fantasma. Consiste na atividade da mente e só pode continuar a funcionar através do pensar constante. O termo ego significa diferentes coisas para diferentes pessoas, mas quando eu o uso aqui significa um falso eu, criado por uma identificação inconsciente com a mente.
Para o ego, o momento presente praticamente não existe. Apenas o passado e o futuro são considerados importantes. Esta total inversão da verdade explica o fato de a mente ser tão disfuncional quando está a funcionar como ego. O ego preocupa-se constantemente em manter vivo o passado, porque, sem ele, quem seria você? Projeta-se constantemente no futuro para garantir a continuidade da sua sobrevivência e para procurar aí algum tipo de libertação ou de satisfação. Ele diz: "Um dia, quando isto, ou aquilo, acontecer, eu vou sentir-me bem, feliz, em paz." E mesmo quando o ego parece preocupar-se com o presente, não é o presente que ele vê: distorce-o completamente porque o vê através dos olhos do passado. Ou então reduz o presente a um meio para alcançar um fim, fim esse que fica sempre no futuro que a mente projeta. Observe a sua mente e verá que é assim que funciona.
O momento presente possui a chave para a libertação. Mas você não poderá descobrir o momento presente enquanto você for a sua mente.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

O PODER DO AGORA 3

OI GENTE,

ESSE TRECHO DO LIVRO É PURA MEDITAÇÃO.....ALÉM DE SER DIFICÍLIMO...MAS VALE TENTAR....
BJCAS
AIRA
Quando escutar um pensamento, esteja ciente não só do pensamento, mas também de si próprio como testemunha do pensamento. Surge então uma nova dimensão de consciência. E, enquanto ouve o pensamento, sentirá uma presença consciente – a do seu eu mais profundo – por trás do pensamento, subjacente a ele. O pensamento perderá então o poder que tem sobre si e rapidamente abrandará, porque você deixou de estimular a mente através da sua identificação com ela. É o começo do fim do pensar involuntário e compulsivo.
Quando um pensamento abranda, você sente uma descontinuidade no caudal mental – um hiato de ausência de mente. Ao princípio, os hiatos serão curtos, talvez de alguns segundos, mas gradualmente tornar-se-ão mais prolongados. Quando esses hiatos ocorrem, você sente uma certa quietude e uma certa paz dentro de si. É o início do seu estado natural de união sentida com o Ser, a qual é geralmente ofuscada pela mente. Com a prática, a sensação de quietude e de paz será mais profunda. De fato, a sua profundidade não tem fim. Sentirá igualmente uma subtil emanação de alegria a surgir bem do fundo de si: a alegria do Ser.
Não é um estado que se pareça com um êxtase. De maneira nenhuma. Aqui não há perda da consciência. Antes pelo contrário. Se o preço da paz interior fosse uma diminuição da sua consciência e o preço da quietude uma falta de vitalidade e de vivacidade, então não valeria a pena ter essa paz e essa quietude. Nesse estado de ligação interior, você encontra-se muito mais atento, muito mais desperto do que no estado de identificação com a mente. Está plenamente presente. Esse estado eleva igualmente a frequência vibratória do campo de energia que dá vida ao corpo físico.
À medida que entra mais profundamente nesse reino de ausência de mente, como por
vezes se diz no Oriente, atingirá o estado da pura consciência. Nesse estado, sentirá a sua própria presença com tal intensidade e com tal alegria que, por comparação, todo o pensar, todas as emoções, o seu corpo físico, assim como todo o mundo exterior, se tornarão relativamente insignificantes. E apesar disso, não é um estado egoísta, mas antes um estado altruísta. Transporta-o para além do que anteriormente considerava ser o "seu eu". Essa presença é a essência de quem você é, mas ao mesmo tempo é inconcebivelmente maior do que você. O que eu estou a tentar transmitir aqui poderá parecer paradoxal ou até mesmo contraditório, mas não existe nenhuma outra maneira de eu me exprimir.
PAG:22

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O PODER DO AGORA 2

VALE A PENA LER ESTE TRECHO....
BOA SEMANA,
AIRA


LIBERTE-SE DA SUA MENTE (pág. 20 e 21)


Se uma pessoa for ao médico e disser «Ouço uma voz dentro da minha cabeça», o mais certo é que essa pessoa seja remetida para um psiquiatra. O fato é que, de um modo muito semelhante, praticamente toda a gente ouve constantemente uma voz, ou várias vozes, dentro da cabeça: é o processo do pensamento involuntário que você tem o poder de travar, embora não o saiba. Monólogos ou diálogos contínuos.

Provavelmente já se cruzou na rua com pessoas "malucas" que falam e resmungam incessantemente consigo próprias. Pois bem, isso não é muito diferente daquilo que você e todas as outras pessoas "normais" fazem, só que não o fazem em voz alta. A voz comenta, especula, critica, compara, queixa-se, gosta, não gosta, e por aí fora.

A voz não é necessariamente relevante para a situação em que você se encontra no momento; provavelmente, ela estará a reviver o passado recente ou distante, a ensaiar ou a imaginar possíveis situações futuras. Aqui, ela muitas vezes imagina que as coisas irão correr mal ou terão resultados negativos; chama-se a isto preocupação. Por vezes, essa pista sonora é acompanhada por imagens visuais ou "filmes mentais". Mesmo que a voz seja relevante para a situação presente, ela interpretará essa situação em termos de passado. É assim porque a voz pertence à sua mente condicionada, que é o resultado de todo o seu historial passado, assim como do contexto mental e cultural coletivo que você herdou. Portanto, você vê e julga o presente através dos olhos do passado e obtém dele uma visão totalmente distorcida. Não é raro que a voz seja o pior inimigo de uma pessoa. Muitas pessoas vivem com um carrasco na cabeça que as ataca e castiga constantemente e lhes suga a energia vital. Ela é causadora de uma tremenda angústia e infelicidade, assim como de doenças.

Mas há boas notícias: você pode libertar-se da sua mente. É a única libertação verdadeira. Poderá começar a dar o primeiro passo já neste momento. Comece por ouvir a voz dentro da sua cabeça o maior número de vezes que puder. Preste particular atenção a quaisquer padrões de pensamento repetitivos, esses velhos discos riscados que provavelmente estão a tocar na sua cabeça há muitos anos. É isso que eu quero dizer com "observar o pensador", que é uma outra maneira de dizer: escute a voz dentro da sua cabeça, esteja lá como testemunha presencial. Ao escutar essa voz, escute-a com imparcialidade. O mesmo é dizer, não julgue. Não critique nem condene o que ouve, porque fazê-lo significaria deixar a mesma voz entrar novamente pela porta de trás. Depressa compreenderá: 1á está a voz, e aqui estou eu a ouvi-la, a observá-la. Esta consciência de que eu estou, esta sensação da sua própria presença, não é um pensamento. Tem origem para além da mente.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O PODER DO AGORA

ESTOU LENDO ESTE LIVRO...É SIMPLESMENTE DEMAIS...LIVRO DE CABECEIRA...
VOU BLOGAR ALGUMAS PARTES PARA VOCÊS:
ESTA É A ORIGEM DO LIVRO: A DESCOBERTA DE QUE SOMOS DOIS...UM VERDADEIRO QUE É CONSTITUÍDO APENAS DE PAZ E OUTRO QUE É UMA FICÇÃO DE NOSSA MENTE, UM EU QUE SOFRE, SENTE MEDO E ACHA QUE VIVE....
AÍ VAI:
A ORIGEM DESTE LIVRO
Não me interesso muito pelo passado e raramente penso nele; no entanto, gostaria de lhe falar sucintamente sobre como me tornei mestre espiritual e como este livro veio a lume.
Até aos meus trinta anos, vivi num estado de quase permanente ansiedade intercalada por períodos de depressão suicida. Presentemente, é como se lhe estivesse a falar de uma vida passada ou da vida de uma outra pessoa.
Uma noite, pouco depois de ter feito vinte e nove anos, acordei de madrugada com uma sensação de absoluto terror. Já anteriormente tinha acordado muitas vezes com uma sensação semelhante, só que desta vez era muito mais intensa. O silêncio da noite, os vagos contornos dos móveis na escuridão do quarto, o ruído distante de um comboio — tudo parecia tão estranho, tão hostil e tão completamente sem sentido que gerou em mim um profundo ódio pelo mundo. A coisa mais repugnante de todas, no entanto, era a minha própria existência. Que razão tinha eu para continuar a viver com este fardo de infelicidade? Porquê continuar com esta luta constante? Sentia que um profundo anseio pela aniquilação, pela não-existência, estava agora a tornar-se muito mais forte do que o desejo instintivo de continuar a viver.
"Não posso continuar a viver comigo mesmo." Era este o pensamento que se repetia na minha mente. Depois, de repente, dei-me conta da peculiaridade de tal pensamento. "Serei um ou dois? Se não posso continuar a viver comigo, é porque em mim deve haver dois: o 'eu' e o 'comigo mesmo' com o qual não posso viver." "Talvez", pensei, "apenas um deles seja real."
Fiquei tão desorientado com esta estranha descoberta que a minha mente parou. Eu estava plenamente consciente, mas deixou de haver pensamentos. Depois, senti-me arrastado para o que me pareceu um vórtice de energia. Era um movimento lento ao princípio e, depois, acelerado. Fui tomado por um medo intenso e o meu corpo começou a tremer.
Ouvi as palavras "não resistas a nada", como se ditas dentro do meu peito. Sentia-me como que a ser sugado para dentro de um vazio. Mas era como se esse vazio fosse mais dentro de mim do que fora de mim. De repente, não havia mais medo e deixei-me cair nesse vazio. Não me recordo do que aconteceu depois disso.
Acordei com um pássaro a chilrear da parte de fora da janela. Nunca antes ouvira um som assim. De olhos ainda fechados, vi a imagem de um diamante precioso. Sim, se um diamante pudesse emitir um som, seria como aquele. Abri os olhos. A luz da manhã projectava alguns raios através das cortinas. Sem qualquer pensamento, eu sentia, eu sabia, que há infinitamente mais luz do que julgamos. A suave luminosidade coada pelas cortinas era o próprio amor. Vieram-me lágrimas aos olhos. Levantei-me e andei pelo quarto. Reconhecia o quarto e, no entanto, sabia que verdadeiramente nunca o vira antes. Tudo era fresco e imaculado, como se acabasse de ter sido criado. Peguei em várias coisas, um lápis, uma garrafa vazia, maravilhado com a beleza e a vivacidade de tudo aquilo.
Naquele dia, percorri a cidade completamente estupefacto com o milagre da vida na Terra, exactamente como se eu acabasse de vir a este mundo.
Nos cinco meses que se seguiram, vivi ininterruptamente num estado de paz e contentamento profundos. Depois, esse estado diminuiu de intensidade, ou talvez assim me parecesse por se ter tornado o meu estado habitual. Continuava a poder funcionar neste mundo, embora compreendesse que nada do que pudesse fazer acrescentaria fosse o que fosse àquilo que eu já possuía.
Sabia, evidentemente, que algo de profundamente significativo me tinha acontecido, mas não compreendia de todo o que seria. Só alguns anos mais tarde, depois de ter lido textos espirituais e passado algum tempo com mestres espirituais, é que compreendi que aquilo que toda a gente procura já me tinha acontecido a mim. Compreendi que a intensa pressão do sofrimento daquela noite deve ter forçado a minha consciência a retirar-se da sua identificação com o eu infeliz e profundamente medroso, que não passa, no fim de contas, de uma ficção da mente. A retirada deve ter sido tão completa que o eu falso e sofredor sucumbiu de imediato, exactamente como se fosse um balão ao qual tivessem retirado o ar. O que restou depois foi a minha verdadeira natureza, a de um Eu sou sempre presente: a consciência no seu estado puro antes da identificação com a forma. Mais tarde, aprendi também a entrar naquele reino interior, intemporal e imortal, que eu percebera inicialmente como um vazio, e a continuar plenamente consciente. Vivi estados de uma beatitude e de um carácter sagrado tão indescritíveis que faziam até mesmo a experiência inicial, que acabei de descrever, parecer insignificante. Houve uma época em que, por algum tempo, fiquei sem nada no plano físico. Não tinha relacionamentos, nem emprego, nem casa, nem uma identidade socialmente definida. Passei quase dois anos sentado em bancos de jardim num estado de intensa alegria.
Mas mesmo as mais belas experiências acontecem e passam. Provavelmente, mais fundamental do que qualquer experiência é o sentimento profundo de paz que desde então nunca mais me deixou. Por vezes, é muito forte, quase palpável, e os outros também o podem sentir. Outras vezes, fica algures em plano de fundo, como uma melodia distante.
Mais tarde, as pessoas vinham ocasionalmente ter comigo e diziam: "Quero isso que você possui. Pode dar-mo, ou mostrar-me como obtê-lo?" E eu respondia: "Você já o possui. Só que não o consegue sentir porque a sua mente faz muito barulho." Foi essa resposta que, mais tarde, se transformou no livro que o leitor tem agora nas suas mãos.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

LIVRO: PARA QUE MINHA VIDA SE TRANSFORME

O SER É O MAIS IMPORTANTE DO QUE O TER E O SABER
Um executivo muito bem-sucedido e informado foi fazer um passeio turístico. Para a travessia de uma a outra margem do rio, alugou uma canoa que era conduzida por um pescador. Durante o percurso, perguntou ao pescador:
--- Você sabe ler e escrever?
---Não , sou analfabeto – respondeu o pescador.
O executivo então lhe disse:
---Você está perdendo parte da sua vida por não saber ler e escrever.
E o pescador continuou o percurso. Mais adiante o executivo fez outra pergunta:
---Você entende de política?
---Não, senhor, pois nunca pude estudar –respondeu o pescador.
O executivo mais uma vez sentenciou:
--- Você está perdendo uma boa parte da sua vida.
A canoa, continuando seu curso, bateu numa pedra. O pescador perguntou então ao executivo:
---O senhor não sabe nadar?
---Não – respondeu ele, desesperado.
O pescador tranquilamente completou:
--- Então o senhor vai perder sua vida toda, pois a canoa está afundando.

Atualmente nós nos preocupamos muito em estar bem informados, fazer cursos, falar outras línguas. Tudo isso é importante, principalmente nos dias de hoje, cheio de tantas informações, onde as coisas mudam a cada segundo. Mas não podemos nos esquecer do essencial, das coisas simples. De nada adianta sabermos tanto, termos tanto...e não sermos nada.
Muitas vezes somos como esse executivo: valorizamos muito o ler e o saber e desprezamos a essência do ser.