terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Um pouco mais sobre ACT

OI TURMINHA,

AÍ VAI UM ARTIGO SOBRE ACT QUE TENHO DESDE 2006, MAS QUE FICOU PERDIDO NO FUNDO DO BAÚ, ACABEI DE ACHÁ-LO. É SUPER BOM, DÁ PARA ENTENDER MAIS UM POUCO SOBRE AS IDÉIAS DO STEVEN HAYES, VALE A PENA LER.
BJOS



Felicidade não é natural
A revista Time publicou uma matéria interessante sobre a terceira onda de mudanças no campo da psicologia. Uma nova tendência que está crescendo dentro da ciência do tratamento comportamental. Atualmente a vertente mais disseminada e responsável pelos tratamentos de depressão, ansiedade, obsessões, traumas, síndrome do pânico, entre outras doenças é a Terapia Cognitiva Comportamental (TCC). A terceira-onda seria a sua substituição pela Terapia da Aceitação e do Comprometimento(TAC) – “Acceptance and Compromise Therapy” – que tem como especialista o psicólogo Steven Hayes, personagem da matéria da Time.
A diferença entre as terapias é deveras interessante de observar. A suposta evolução de pensamento faz sentido, apesar do caráter inicial de seu uso. O tratamento através da TCC consiste em corrigir padrões de pensamentos e comportamentos distorcidos. Realiza mudanças das emoções negativas que atormentam tantas pessoas. O paciente passa a questionar seus pensamentos e atitudes, os desafiando até conseguir superá-los. É considerado curado quando esses pensamentos negativos são modificados.
Já a TAC não pretende alterar os sentimentos que surgem através das emoções negativas. Seu objetivo é que o paciente aprenda a observar todas essas emoções de uma perspectiva maior, colocando-as dentro de um contexto. Usando uma analogia, é aprender a ver as nuvens no contexto do céu. As núvens mudam, o céu não. Tendo essa perspectiva maior, as emoções negativas não são tão opressoras a ponto de controlar totalmente nossas mentes, nos deixando destruídos e prostrados.
Os resultados da TAC são interessantes. Sua eficácia está sendo grande no tratamento de depressão. Uma explicação para seus resultados positivos é que, ao tentarmos corrigir ou mudar nossos pensamentos negativos, como se faz na TCC, acabamos os fortalecendo. Hayes usa a comparação com alguém que precisa fazer dieta e não pode comer pizza. E a pessoa pensa “não posso comer pizza, não posso comer pizza”, ficando apenas mais obcecada por pizza. Segundo Hayes, se ficamos abertos e dispostos a experimentar as emoções negativas, acabaramos entendendo como deve ser nossa vida e o que devemos fazer com ela.
O método utilizado para observar essas emoções é baseado na meditação budista da atenção plena (mindfulness em inglês; shamata em sânscrito; shine em tibetano). O que mostra mais uma vez a influência do pensamento oriental que recentemente foi se inserindo na ciência ocidental. E o que deixa um pouco questionável a verdadeira dimensão científica dessa chamada terceira onda na psicologia. A técnica ajuda aos pacientes a observarem com mais atenção seus sentimentos sem que sejam entorpecidos por eles. Pode parecer banal e simplista, mas realmente internalizar isso faz com que tudo fique mais leve, ao ponto de simplesmente entender que pensamentos negativos ocorrem durante a vida, e nunca deixarão de acontecer.
Logo, Hayes não aconselha seus pacientes a lutar contra as emoções negativas, mas que aprendam a aceitá-las como parte da vida. De novo, pode parecer superficial, como se o sofrimento das pessoas com essas doenças não fosse algo tão grave assim. Mas Hayes não está dizendo que as pessoas não sofrem o bastante. Ele mesmo, antes de ser um psicólogo de renome, foi um paciente. Tinha síndrome do pânico. Não conseguia falar em público, parecia que estava tendo um ataque cardíaco, com conseqüências terríveis.
A TAC acredita que a tentativa de se livrar da dor é a principal combustível para transformá-la em um grande sofrimento. Uma idéia que pode parecer revolucionária no ocidente, mas que dentro da filosofia budista é como aprendar as vogais do alfabeto. Ainda não existem estudos que comprovam a eficácia do tratamento. Mas a matéria da Time é bem completa na explicação das teorias e nos questionamentos em torno dela.
Para mim, a idéia da TAC faz muito sentido. Só não consigo imaginar isso funcionando em um ambiente clínico, em vários tipos de pacientes. O insight que fez surgir em mim a idéia principal da TAC – de não lutar contra emoções ruins – surgiu de forma natural. Natural, mas não fácil. Levou anos de convivência amarga com pensamentos, lembranças, saudades e fantasmas que teimavam em ir embora. Eu, querendo me desfazer deles, apenas dava mais força a eles. Depois de muito tempo, percebi que teria que fazer amizade e não tentar esquecer tudo, dos pensamentos que me perturbavam, que me causavam terror. É como fazer amizade com um inimigo, sem que este tenha dado motivos para isso. Passei então a incorporá-los. Um a um. É uma companhia estranha, só que não mais destrutiva. Perdeu toda força negativa. E de certa forma, me apropriei dessa força. Lembrando agora, vejo como é difícil, mas não há escolhas. Alguns chamam isso de destemor, não sei se concordo. Hoje minha agenda parece ter mudado - apesar de não nem querer entrar em muito contato com o que seja ela. Não quero pensar em como devo lidar com as coisas. Como deve ser minha reação. Mas me contenho, já que estou no limite da minha capacidade de expressão. Se é que algo acima fez sentido pra alguém.
O refrão da música “Black” do disco I See a Darkness do Bonnie Prince Billy é um bom resumo de tudo dito acima.
Black, you are my enemy
And I cannot get close to thee
Our life is ruled by enmity
And I can't weaken that
The only way that I can see
Is to hold you close to me
To love you for it's meant to be
I weaken your attack
Por Renato Parada.

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